PRESSÃO NA PELE: "Sofro um assédio quase sexual para vender meu negócio. Mas já disse que não vendo", brinca Francisco Deusmar, da Pague Menos |
No ano passado, o Fundo Gávea, de Armínio Fraga, comprou 30% da Droga Raia. Há duas semanas, o BTG Pactual, de André Esteves, anunciou a aquisição de 450 pontos da rede Farmais, a maior do País em número de lojas. Nos últimos meses, o Grupo Pão de Açúcar teria sondado a Drogaria São Paulo, apurou a DINHEIRO. Isso parece ser só o começo de uma profunda transformação no setor de farmácias. Poucas empresas passaram a ser tão cobiçadas no varejo brasileiro quanto as drogarias. É fácil entender os motivos. Em 2008, as farmácias brasileiras faturaram R$ 10 bilhões, um aumento de 21,32% na comparação com 2007. A performance é muito superior à expansão das redes de supermercados, que foi de 9%.
Poucos empresários são tão avessos a holofotes quanto os donos de farmácias e drogarias. A discrição provavelmente está ligada à origem desses grupos. Até o início da década passada, o segmento cresceu à base da venda "olho no olho", muitas vezes fiada. Não era raro o fundador dar expediente atrás do balcão e, na condição de farmacêutico, fazer atendimentos clínicos informais. Os negócios prosperaram e fizeram surgir grandes redes com atuação nacional. Maiores e amparadas pela legislação, que permitiu às farmácias vender um leque variado de produtos, elas passaram a dar mais dinheiro do que muitos outros setores. E, nesse processo, se tornaram as queridinhas do varejo nacional.
R$ 10 bilhões foi o faturamento das redes de drogarias no Brasil em 2008, o que representa uma alta de 21% sobre o ano anterior
Trata-se de um marco na história do setor. Extremamente pulverizado e regionalizado, o segmento manteve-se distante da onda de fusões e aquisições que afetou o comércio nacional na década de 90. Agora, o movimento de consolidação deve gerar um ciclo inédito de investimentos. Segundo apurou a reportagem da DINHEIRO, o Pão de Açúcar está em busca de ativos e já teria sondado grandes grupos como a Drogaria São Paulo e a rede Araújo, uma pequena cadeia de lojas de Minas Gerais com um dos negócios mais bem administrados do mercado. Maior rede de drogarias do País, a Pague Menos, do empresário Francisco Deusmar Queiros, já foi procurada por investidores de fundos de private equity locais e estrangeiros. "É um assédio quase sexual", brinca Queiros. "Mas eu não vendo."
O interessante é que, até pouco tempo atrás, não havia o menor sinal de que aconteceria tamanha movimentação. "Bastou o mercado ouvir o tilintar das moedas e alguns começaram a pensar: por que não comprar uma drogaria também?", diz Claudio Roberto Ely, presidente da Drogasil. "Somos uma companhia de capital aberto e, se houver interesse de alguém, é só ir à bolsa. Mas não oferecemos nada." Ely acredita que as drogarias se tornaram cobiçadas graças principalmente a uma mudança no seu modelo de negócios. Em vez de apenas vender medicamentos, as farmácias viraram também centros de beleza e bem-estar. Nas grandes redes, é possível fazer limpeza de pele ou comprar cremes importados para combater rugas. As gôndolas passaram a oferecer balas, refrigerantes, alimentos, algo impensável até pouco tempo atrás. Da iluminação ao layout, tudo foi revisto.
Resultado: a oferta maior de produtos e serviços disponíveis e um ambiente mais amigável passaram a atrair um novo público. "O ganho de sinergia que as redes de supermercado terão com novas drogarias é imenso", diz Alberto Serrentino, sócio da GS&MD. "Sem contar que o aumento na renda familiar tem ajudado muito a elevação nas vendas de itens de higiene e beleza, que possuem forte demanda nas drogarias."
O setor também passou por um processo de amadurecimento. Driblar o Fisco, por exemplo, virou coisa do passado. "O regime de substituição tributária e a introdução da nota fiscal eletrônica no ano passado foram fundamentais para a profissionalização", diz Eugênio de Zagottis, vice-presidente comercial da Droga Raia. É fácil entender. A formalização fiscal torna os negócios mais transparentes - o que facilita a aquisição ou venda de ativos. Além disso, com as novas regras, pequenas redes que fraudavam para lucrar começaram a baixar as portas. Com a concorrência menor, as redes dominantes passaram a faturar mais. As cinco maiores drogarias do País eram donas de 22% das vendas em dezembro de 2008. Em 2006, essa taxa estava em 16,5%.
As grandes redes brasileiras também passaram a ser cobiçadas por grupos estrangeiros. Em julho de 2009, a alemã Celesio, um dos maiores distribuidores farmacêuticos da Europa, adquiriu 50,1% das ações do grupo goiano Panpharma, dono das distribuidoras Panarello, American Farma e Sudeste Farma. Teria pago R$ 470 milhões para entrar nesse mercado no Brasil. Depois que um dos diretores disse lá fora que a companhia daria "continuidade" a sua atuação no Brasil, os rumores de aquisições no varejo só cresceram. Foi preciso que o presidente do conselho de administração, Fritz Oesterle, viesse a público para negar o interesse em lojas locais. No Exterior, a convergência entre farmácias e supermercados é antiga. Nos Estados Unidos, as grandes redes varejistas vendem todo tipo de remédios e em alguns locais é possível realizar até exames médicos básicos. No Brasil, porém, isso ainda está distante de acontecer.
FONTE: DINHEIRO. Por : Adriana Mattos
Nenhum comentário:
Postar um comentário