Nenhum dos três mil estabelecimentos do Estado está de acordo com o decreto de 2006, que regulamenta essa venda; balconistas desobedecem padrões da Anvisa
O que fazer quando um médico passa uma receita e manda você tomar sete comprimidos durante uma semana, mas, na farmácia, a embalagem do medicamento só é vendida com dez comprimidos? Por que nem todas as farmácias vendem o remédio fracionado?
A funcionária pública Dilma Guerra se fez essas perguntas depois que contraiu uma virose e o médico receitou que tomasse, durante uma semana, um comprimido por dia. “Quando cheguei à farmácia, só tinha caixa com dez comprimidos e tive que comprar”, conta. “Me informaram que lá não tem venda fracionada”.
A venda fracionada de remédios já está regulamentada no Brasil há três anos. O decreto federal é de maio de 2006, mas ainda está longe de ser cumprido. De acordo com o gerente geral da Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (Apevisa), Jaime Brito, nenhuma das três mil farmácias do estado segue os requisitos determinados pela lei.
“Identificamos problemas como as condições de higiene e a falta de uma bancada exclusiva para o fracionamento”, disse. “Além disso, deve haver um farmacêutico durante todo o horário de funcionamento do estabelecimento, porque somente esse profissional pode fracionar o medicamento”.
O presidente do Sindicato das Farmácias de Pernambuco afirma que não é apenas aqui no Estado, mas em todo o Brasil, que a lei não é cumprida. Para ele, isso está ocorrendo, principalmente, por dois motivos: os laboratórios não produzem os remédios fracionados e as farmácias teriam que fazer um investimento muito alto para se enquadrar no que determina o decreto federal.
“A primeira dificuldade é que não tem farmacêuticos suficientes em Pernambuco para todas essas farmácias, a outra é que os custos com a burocracia e com as adaptações necessárias para fazer o fracionamento dos remédios é muito grande”, afirmou.
Com uma câmera escondida, a equipe do Bom Dia Pernambuco flagrou a venda fracionada de medicamentos fora dos padrões determinados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Em uma Farmácia do Trabalhador do bairro da Iputinga, no Recife, o balconista usou uma tesoura para cortar a cartela do antibiótico amoxilina.
Em outra farmácia do bairro de Maranguape, em Paulista, mais irregularidade. Veja o que afirma o balconista:
- Pela quantidade, né? Se não for assim a gente não vende. Eu tenho 40 anos nessa desgraça... Se a Vigilância Ssanitária encontrar medicamentos abertos, ela leva. A gente vendendo solto, vende muito, mas se for a caixa não sai nada. Essa caixa ninguém compra, quem vai comprar?
A reportagem voltou depois às duas farmácias e os mesmos homens negaram que vendiam, irregularmente, medicamentos fracionados. O gerente da Apevisa, Jaime Brito, diz que os balconistas podem ser multados.
“Eles estão cometendo uma infração sanitária prevista por lei”, explica. “A penalidade pode ser desde uma advertência até a interdição do estabelecimento e uma multa, dependendo do dano que ele possa ter causado à saúde de um paciente”.
AUTOMEDICAÇÃO
Outra questão importante é a venda de medicamentos sem prescrição médica. De acordo com a médica Márcia Jaqueline Sampaio, cerca de 50% das vendas dos medicamentos que não precisam de receita são casos de automedicação.
“O uso de antibióticos em dose e tempo inadequados causa uma resistência bacteriana, ou seja, mas bactérias se tornam mais fortes e quando houver uma nova infecção, vai necessitar um internamento e o uso de antibióticos mais agressivos e caros”, explica.
“É um ciclo vicioso. Além disso, o uso de certos medicamentos pode provocar hemorragia, alergias e até intoxicação em crianças por causa de uma dose inadequada”. Ela lembra que as pessoas devem ir primeiro a um médico e depois à farmácia, onde devem exigir que o balconista venda exatamente o que o médico prescreveu na receita.
FONTE: www.pe360graus.globo.com
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